TENSO…

A conta está chegando para o Corinthians Feminino

É um assunto delicado, mas está ficando escancarado. A relação entre o Corinthians e seu time feminino, que por tanto tempo foi referência, está claramente desgastada. No último sábado, durante o Derby na Fazendinha, em que as Brabas foram derrotadas por 2 a 1 pelo Palmeiras, a torcida deu um recado que não dá mais pra ignorar.

Faixas com os dizeres “Arrecada milhões e investe migalhas” e “Fora Mariano” mostraram que a insatisfação ultrapassou o campo e agora mira diretamente a gestão. Marcelo Mariano, mesmo afastado oficialmente, segue atuando nos bastidores e é uma das principais figuras de ponte entre o departamento feminino e Augusto Melo. E é justamente aí que mora boa parte do problema.

Enquanto a Ferroviária projeta um CT exclusivo para as Guerreiras Grenás e o Cruzeiro compartilha com o elenco feminino os mesmos recursos de saúde, performance e metodologia do masculino — incluindo o melhor campo da Toca 2 —, o Corinthians parece tratar o time feminino como algo à parte. As Brabas treinam no CT da base, o mesmo que abriga as categorias menores, enquanto o Joaquim Grava só é utilizado em ocasiões “especiais”, geralmente quando o masculino está viajando ou em Data Fifa. O sentimento é claro: o que sobra, serve.

A integração com o time masculino, que poderia ser estratégica tanto esportivamente quanto em termos de marketing, simplesmente não existe. As jogadoras marcam presença nos jogos do profissional com frequência, mas são ignoradas pelas redes sociais do clube. Quando vão à Neo Química Arena, ficam na arquibancada, com a torcida. O contraste com a ausência de reconhecimento institucional salta aos olhos. De memória, só lembro do Murilo, ex-zagueiro do Timão, prestigiando a equipe na Fazendinha em 2023.

Dentro de campo, o time também não engrena. Com apenas três vitórias em seis jogos neste início de 2025, o trabalho de Lucas Piccinato vem sendo cada vez mais questionado. O time é irregular e parece incapaz de aplicar o que é treinado — ou o que deveria estar sendo. Na coletiva após o Derby, ele admitiu que o elenco conhecia os pontos fortes do Palmeiras, mas não conseguiu responder dentro de campo. O problema é recorrente.

Piccinato tenta impor suas ideias, mas parece perdido. As substituições são pouco efetivas, e o time ainda não tem uma identidade clara. O treinador tem contrato até 2026 e, ao que tudo indica, quer cumpri-lo — mas, para isso, vai precisar mostrar mais. Para mim, o Majestoso contra o São Paulo, no dia 26, será decisivo. Precisa vencer — e convencer. Até agora, não fez nenhum dos dois. E caso a diretoria opte por uma troca, caberá a Iris Sesso decidir. Rosana, recém-demitida da Seleção Sub-20, é um nome? Tatiele, hoje no Colo-Colo e que foi um dos alvos na saída de Arthur Elias? Existe espaço para tentar alguém do cenário nacional? A dúvida paira, e a responsabilidade também.

Mas nem tudo é culpa do técnico. A queda técnica de várias jogadoras é evidente, e parece haver um certo comodismo, principalmente entre as que já estavam no elenco. É como se a régua tivesse baixado internamente, acompanhando o desânimo que vem de fora. Isso também é reflexo de um ambiente instável e de uma estrutura que não corresponde ao nível de exigência que se impõe ao elenco.

A verdade é que a conta chegou. E não vai ser com silêncio ou discurso pronto que ela será paga.